De volta ao começo

As 3:30 da tarde eu, parado na calçada da COOMIGASP em Imperatriz, observo o ônibus 1014 da Viação Branca do Leste – série Imperatriz classe A, que irá levar uma caravana de Garimpeiros à Curionópolis – PA. Nos anos 80, muitos veículos fizeram esse mesmo percurso e muitos imperatrizenses rumaram para Serra Pelada, garimpo que fica no município de Curionópolis – PA. Hoje, eu faço a mesma viagem. Parece que voltei no tempo, eu irei de volta ao começo.

Eu estou visivelmente incomodado com a garoa que teima em cair sobre a cidade, ao mesmo tempo não consigo parar de pensar na emoção de rever Curionópolis, pois, embora tenha nascido no Maranhão, eu, assim como esses garimpeiros, fui logo cedo com destino aquela cidade. Parece estranho, mas voltar ao sul do Pará é ao mesmo tempo voltar ao início da minha vida, eu viajarei de volta ao começo.
O ônibus sai de Imperatriz as 3:40 da tarde, e antes de chegar a BR 010, cruza uma porção de bairros que eu até então desconhecia. Como essa cidade é grande. Pela Janela contemplo as casas que tentam sobreviver à chuva, que antes era garoa, agora é temporal. As pessoas em sua maioria concentram – se de frente para televisão, penso que estão esperando a chuva passar, logo quem sabe o sol aparece e elas podem voltar à rotina.

Já não estamos em Imperatriz, no ônibus eu não conheço ninguém. O que me resta é continuar fixo na janela olhando a paisagem; o problema é que a chuva aumenta a cada instante, o vidro está ficando embaçado, agora só vejo vultos. De repente lembro da minha infância, do prazer que sentia ao andar de ônibus, lembro me das imagens embaçadas na janela, como as que vejo agora, por um momento voltei a ser criança, voltei ao começo da minha vida.

Para completar o meu espírito de nostalgia, o motorista do ônibus liga as TV’s; na tela, um filme dos anos 80. Demorei para acreditar, olhei fixamente pra tv e não me contive de emoção, eu começava a assistir ‘Os Deuses devem estar loucos’, clássico do cinema americano, um dos filmes mais engraçados que já assisti, e se não me engano, a última vez que vi esse filme, eu deveria ter algo em torno dos 7 anos de idade, hoje com 22 penso, como era bom aquele tempo. Concentro-me no filme e aos poucos retorno ao passado.

Há um dito popular que diz que tudo que é bom dura pouco. A tv logo é desligada, e eu, sem muito o que fazer volto a observar a paisagem. Eu até queria conversar com alguém, mas não conheço ninguém no ônibus e todos estão muito ocupados dormindo. Algo me chama a atenção no lado de fora do ônibus, entramos em um vale repleto de plantações de Eucalipto. Não gosto dessas árvores, dizem que elas estragam o solo, mas devo admitir que é muito bonito o bosque formado por essa extensa plantação. Quase não dá pra ver o fim. Passei minutos olhando o bosque e imaginando, quem plantou todas essas arvores? Com que intenção? Será que um dia irão derrubar todo esse bosque para fabricar carvão vegetal e alimentar os fornos gigantes e insaciáveis das siderúrgicas da região? Ou vão virar papel e celulose? Aos poucos me conformo com a idéia de que num futuro não muito distante já não verei essa plantação de Eucaliptos. Ainda bem; eu não gosto de eucaliptos, dizem que prejudica o solo.

Paramos para jantar as 7:20 da noite na cidade de São Pedro D’água Branca – MA. Enfim começo a conhecer as pessoas que viajam comigo. Todos são, ou foram garimpeiros, a exceção do motorista. Durante o jantar nós conversamos sobre a expectativa de finalmente ver o garimpo novamente funcionando. É por isso que eles estão viajando para Curionópolis, desejam ver com os olhos que um dia a terra irá comer, esse grande acontecimento. Eu não. Só quero voltar a minha cidade, rever os meus amigos, abraçar a minha família, brincar com o meu cachorro. O motorista liga o ônibus e alerta. Vamos embora. Já dentro do ônibus, os garimpeiros voltam a dormir, eu volto a olhar o mundo pela janela, e volto a pensar no passado. Eu só quero ir pra casa. As 11:40 da noite chego em Curionópolis. Eu estou de volta ao começo. Mas em breve, retorno à Imperatriz.

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2 Comentários

  1. Em pleno domingo a tarde, eu lendo essa narração. A música no fone de ouvido, o clima quente semi-úmido e a pausa no trabalho pra desofuscar a mente, me deram uma tremenda sensação nostálgica no seu mais extremo estágio.

    Creio que seja a sensação de ficar mais velho. Essas voltas no tempo, ao começo, a infância... puta que o pariu!

    Ver essa foto e ler esse relato me fez lembrar do quando eu gosto de viajar e conhecer os entornos da minha região, inclusive essas plantações de eucaliptos tão famosas no Maranhão.

    Sem mais palavras. A música aqui no fone de ouvido não me deixa mais raciocinar.

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  2. é Dhony! Tem horas que me dá uma nostagia de casa! Tudo é diferente o 30! Lugar quase perfeito!

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